De acordo com uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group, o mercado de moda circular tem a projeção de crescimento de 15 a 20% até 2030, ultrapassando o valor do mercado de fast fashion.

A moda circular baseia-se nos princípios da economia circular, que propõe a redução, reutilização e reciclagem de materiais.

No contexto da indústria têxtil, isso significa que as roupas, sapatos e acessórios são desenhados para durar mais, serem reparados facilmente e, eventualmente, serem reciclados em novos produtos.

Neste artigo, vamos fazer panorama detalhado deste mercado em ascensão, seus modelos de negócio e vantagens. Confira!

Moda circular: o que é?

A moda circular é um conceito dentro da indústria fashion que visa a criação de um sistema sustentável, onde os produtos são projetados e fabricados para serem reutilizados, reciclados ou biodegradáveis, minimizando o desperdício e o impacto ambiental.

Esse modelo de produção fecha o ciclo de vida dos produtos, desde o design até o descarte, com práticas que mantêm os materiais em uso por mais tempo e reduzem a necessidade de recursos novos.

Os princípios da moda circular incluem:

  1. Design durável: criação de produtos que tenham alta durabilidade e que possam ser usados repetidamente.
  2. Uso de materiais sustentáveis: optar por materiais que sejam recicláveis, biodegradáveis ou que tenham um impacto ambiental reduzido.
  3. Reciclagem e reutilização: desenvolver sistemas para a reciclagem de roupas e a reutilização de materiais.
  4. Economia compartilhada: promover modelos de negócios baseados em aluguel, troca e revenda de roupas.
  5. Produção eficiente: reduzir o desperdício durante a fabricação e usar recursos de forma eficiente.
  6. Transparência e responsabilidade: garantir que toda a cadeia de produção seja ética e sustentável, com práticas de trabalho justas e transparentes.

Esse modelo sustentável vem de uma demanda dos próprios consumidores por uma produção de moda mais responsável. De acordo com uma pesquisa realizada pela Ecglobal80% dos consumidores se importam em consumir de forma consciente e sustentável. 

De acordo com uma pesquisa organizada pela Global Fashion Agenda e pela Mckinsey&Company, a indústria da moda foi considerada a segunda mais poluente do planeta. Estamos falando de mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis descartados nos últimos anos.

Ao adotar práticas sustentáveis de produção é possível mitigar muitos desses impactos ambientais negativos que estão associados à produção e ao consumo em massa desses artigos.

Diferença entre moda linear e circular

A principal diferença entre a moda linear e a circular é o modelo de negócio. A primeira segue um caminho de “produzir, usar e descartar”, resultando em um considerável desperdício de recursos. Por outro lado, a moda circular adota uma abordagem “produzir, usar, reutilizar e reciclar”, criando um ciclo fechado que minimiza o impacto ambiental e promove a sustentabilidade.

Moda circular

Como investir em moda circular: utilize essas estratégias!

A pesquisa realizada entre o Instituto Locomotiva e a PwC sobre hábitos de consumo no Brasil revela tendências interessantes relacionadas à sustentabilidade e ética empresarial. De acordo com o estudo, aproximadamente 90% dos brasileiros valorizam a compra de roupas, calçados e acessórios produzidos de maneira sustentável. Esses consumidores afirmam que se preocupam se suas aquisições contribuem para a destruição do meio ambiente.

Esses dados indicam uma mudança no comportamento do consumidor brasileiro, que está cada vez mais consciente e exigente quanto às práticas corporativas relacionadas à sustentabilidade.

Enxergando essa crescente demanda, empresas tem investido em adotar diversas práticas que tornem a produção mais sustentável ou até mesmo investir em novas formas de negócio, veja abaixo:

Upcycling

O upcycling é um processo que transforma roupas ou tecidos usados em novos produtos. Esta prática reaproveita materiais têxteis existentes para criar peças diferentes das originais. O processo começa com a coleta de roupas antigas, tecidos descartados ou sobras de produção. Esses materiais são então avaliados para determinar seu potencial de reutilização.

Quando necessário, as peças originais são desmontadas, um novo design é concebido para utilizar os materiais disponíveis de forma eficiente. Em seguida, os materiais são cortados, costurados e montados de acordo com o novo design. Por fim, a nova peça recebe novos acabamentos como botões, zíperes ou estampas.

Aluguel de roupas

O aluguel de roupas é uma tendência crescente para o segmento, permitindo aos consumidores acesso temporário a peças de alta qualidade ou de grife.

Este modelo reduz o consumo excessivo e o desperdício, ao mesmo tempo que oferece variedade no guarda-roupa sem comprometer o espaço ou o orçamento. As empresas de aluguel operam online e com lojas físicas, com seleções que passam por uma curadoria, que vão desde roupas casuais até trajes de gala.

Venda de roupas usadas

A revenda de roupas usadas, em brechós físicos e plataformas online, tem ganhado popularidade como alternativa sustentável ao fast fashion. Assim, estende a vida útil das peças, reduzindo o desperdício têxtil e o consumo de recursos.

O Enjoei.com, por exemplo, é um marketplace online que incorpora os princípios da circularidade na moda e em outros setores. Na plataforma, os usuários podem vender e comprar uma ampla variedade de itens, desde roupas e acessórios até móveis e eletrodomésticos, tanto usados quanto novos. Atualmente, a empresa está expandindo para o varejo físico com a abertura de sua primeira loja em São Paulo, na Vila Madalena.

O setor de venda de artigos infantis usados tem experimentado um crescimento acelerado, exemplificado pelo sucesso da Cresci e Perdi. Fundada em 2014 no interior de São Paulo, a rede transformou-se na maior franquia de moda circular do mundo, com uma presença impressionante no Brasil.

O conceito da Cresci e Perdi surgiu da observação de que muitas roupas infantis são pouco utilizadas devido ao rápido crescimento das crianças. Para solucionar esse problema, a empresa criou um modelo de loja que oferece uma ampla variedade de produtos categorizados, proporcionando uma experiência única tanto para compradores quanto para vendedores.

Programas de reciclagem produtos

Programas são iniciativas que visam aproveitar itens de vestuário e acessórios usados no ciclo produtivo da moda. Estes programas funcionam coletando peças descartadas pelos consumidores e processando-as para obter matérias-primas que podem ser utilizadas na fabricação de novos produtos.

O processo geralmente começa com pontos de coleta onde os consumidores podem depositar suas roupas e acessórios usados. Estas peças são então separadas por tipo de material, tecidos como algodão, poliéster e lã são processados separadamente.

Movimento ReCiclo C&A

Um exemplo prático desta abordagem é o Movimento ReCiclo da C&A, um programa de reciclagem e reutilização de roupas que exemplifica a circularidade na moda. Este programa coleta peças usadas em mais de 206 lojas em todo o Brasil, separando-as em duas categorias: roupas em boas condições são doadas para instituições parceiras, enquanto as peças impróprias para uso são enviadas para a Retalhar, uma empresa certificada que realiza a manufatura reversa. Este processo separa componentes como zíperes e botões para destinação adequada e transforma o tecido em matéria-prima para outras indústrias, como a automotiva.

Moda sustentável

Benefícios de investir em práticas de moda circular

Otimização da cadeia de suprimentos

A transição para um modelo de negócio sustentável e cíclico no setor de moda promove uma mudança profunda na cadeia de suprimentos, resultando em benefícios substanciais para as empresas. Isso significa uma mudança em toda a jornada do produto, desde a concepção até o fim de sua vida útil e eventual reintegração ao ciclo produtivo.

Programas de “devolução para reciclagem” são uma estratégia inteligente a se adotar, onde clientes podem receber descontos ao retornar peças antigas. Essas peças podem ser reaproveitadas, com botões e zíperes sendo reutilizados em novas coleções, e os tecidos reciclados para criar novos fios ou materiais para acessórios.

Economia de recursos

Economia de recursos, como água e energia elétrica, e melhor direcionamento dos custos de produção ao implementar práticas sustentáveis, frequentemente leva a economia da produção. A redução no uso de água e energia não só diminui o impacto ambiental, mas também reduz os custos operacionais.

Além disso, uma análise cuidadosa dos processos de produção pode revelar áreas onde os recursos estão sendo desperdiçados, permitindo um redirecionamento mais eficaz dos custos. Isso pode resultar em uma operação mais enxuta e lucrativa.

Novas oportunidades de negócio

Investir nessa estratégia pode abrir portas para novos modelos de negócio que podem complementar suas operações principais.

Por exemplo, um serviço de aluguel para peças para determinadas ocasiões ou acessórios de luxo. Isso atrai clientes que desejam variedade sem comprometer-se com compras caras, ao mesmo tempo que gera receita recorrente para sua empresa.

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